"O verdadeiro lugar de nascimento é aquele em que lançamos pela primeira vez um olhar inteligente sobre nós mesmos." (Marguerite Yourcenar)

«Adevăratul loc de naştere este acela unde pentru prima dată ai aruncat asupra ta însuţi o privire pătrunzătoare» (Marguerite Yourcenar)

raulpassos.maestro@gmail.com

28 de ago. de 2009

UM PEQUENO TRIBUTO...


De todas as conquistas que obtive na Romênia, certamente aquela mais gratificante é de natureza imaterial, a exemplo do que normalmente ocorre nessas vivências. Vamos em busca de um objetivo específico (nesse meu caso, o aprimoramento enquanto musicista) e voltamos com uma bagagem maior. Acabamos mesmo ensinando um tanto além do que absorvemos. Naturalmente, as relações construídas acabaram sendo para mim tão ou mais importantes que o processo acadêmico em si.
Hoje, movido por um misto de saudade, agradecimento e, claro, admiração, escreverei algumas linhas dedicadas aos amigos que fiz na Universitatea Naţionala de Muzică, em Bucareste. No curso de Mestrado, somos aproximadamente 30 musicistas, sendo 9 pianistas, dos quais vou falar em seqüência. Minha convivência com eles reproduziu, de certa maneira, o ambiente no qual eu estava imerso na faculdade de Composição e Regência. Naquela época, éramos 6 na turma: 5 rapazes (além de mim, Ricardo Petracca, Rainer Mafra, Alexandre Gonçalves e Osmário Estevam Jr.) e mais a Margarethe Nascimento, que conferia um quê de respeitabilidade ao grupo dos marmanjos... Na Romênia, dos 9 pianistas, 7 são mulheres.
Passei a conviver mais com Andreea a partir do momento em que nossa professora de música de câmara, Manuela Giosa, nos propôs trabalharmos a suíte Scaramouche, para 2 pianos, de Darius Milhaud. Descobri, com grata surpresa, que aquela menina loira e baixinha de sorriso fácil era uma pianista de vivacidade incomum. Nossos ensaios eram entrecortados por conversas frugais porém muito divertidas. Numa determinada aula, após terminarmos o movimento lento da supracitada suíte, que é de uma beleza poética latente e não obstante de uma simplicidade cristalina, um silêncio profundo perdurou na sala por alguns instantes. Foi finalmente rompido pela professora Giosa: „Tão simples e tão belo como a vida...”. Não havia o que ser acrescentado... Acabou se tornando a amiga presente em cada dia. Sempre atenciosa, chega mesmo a me telefonar cá no Brasil e não esquece de vez por outra enviar uma mensagem. O que destoa um pouco do todo (e até julgo divertido) é o seu gosto por Britney Spears e Richard Clayderman... É, além de tudo, uma exímia e sensível fotógrafa.
Próxima a ela está Mădălina, porém com um temperamento musical diferente. Foi a primeira pessoa com quem travei conhecimento no mestrado, ainda no dia da matrícula. Com meu nível então precário de língua romena, a sempre prestativa secretária Mariana Popescu, no momento em que eu deveria redigir minhas solicitações de matrícula, disse para eu copiar os termos da solicitação da mocinha logo atrás de mim. Olhei para trás e Mădălina sorriu. Em pouco tempo, estaríamos trocando sugestões na interpretação da Sonata para Violino e Piano de Debussy. Juntos, amargamos os jilós dos exames de acompanhamento. Minha identificação natural com ela, pela própria personalidade artística, ainda era acrescida de coincidências bastante curiosas: executávamos praticamente os mesmos repertórios em todas as disciplinas, tirávamos sempre as mesmas notas e até nas provas que previam sorteio de questões, acabávamos tirando o mesmo papel. Na quase totalidade dos exames, virávamos página um para o outro. Além do que, é leonina também! Tudo isso levou a professora Giosa a declarar certa vez que éramos „irmãos gêmeos”. De fato, acho que se eu tivesse uma irmã seria algo parecida com ela.
Emilia foi a primeira a me ajudar, logo no começo das aulas, quando precisei de uma ajuda para entender o (burocrático) sistema de funcionamento da biblioteca da faculdade. Falando um respeitável francês, me ajudou diligentemente no preenchimento das fichas de empréstimo. Tem um jeito bastante espevitado, vive falando em esoterismo (os astros parecem reger também a personalidade dela em tempo integral...) e não hesita em analisar e resolver as relações de todo mundo através dos signos. Está aí talvez a única pessoa que sorri abertamente na Romênia! Gargalha, de fato...
A última colega de quem me aproximei foi Luiza, mesmo porque ela sempre esteve distante do resto do grupo. Paradoxalmente, a cada vez que nos encontrávamos, estava sempre preocupada em saber como eu me sentia no país, como estava convivendo com as diferenças, quais as minhas expectativas, e assim por diante. Certa vez, enquanto esperávamos a vez de entrada para o exame (devido à ordem alfabética por sobrenomes, ela normalmente me sucedia), perguntei se estava nervosa. Ela sorriu timidamente e disse: „E você sempre tão calmo... Pelo menos, é o que transparece!”.

Stefan sempre esteve mais calado, mais „na dele” como dizemos coloquialmente. Embora muito introvertido, quando decidia fazer um piada ou um comentário qualquer... era certeza de riso geral! Mostrou-se efetivamente um bom companheiro e bom papo sobretudo para os longos minutos de espera diante da sala antes de uma prova teórica. Sua tese sobre prelúdios e fugas de Bach e Shostakovich me chamou atenção para a seriedade com que encara a música.
O fato mais curioso sobre Maria, o qual acaba de me ocorrer, é que foi ela a única dentre todos os colegas com quem falei unicamente em romeno desde o primeiro momento. Possuidora de uma inteligência musical fora do comum, é dotada ainda de um poder técnico e interpretativo no mínimo invejável. Ao piano, quando tocava, deixava transparecer uma atitude imperativa e distinta, que quase parecia a de outra pessoa que não aquela menina meiga, sorridente e brincalhona que de fato ela é. Cantarola discretamente quando toca, o que é um vício desculpável para alguém que está constantemente e com efeito dentro da música.
Ioana é a personalidade mais rica e complexa de todas. Dona de uma esmerada cultura, interessada e entendida em literatura, apaixonada pela língua portuguesa, ainda é a meu ver a melhor pianista dentre todos nós: mais por sua vasta capacidade interpretativa e sensibilidade do que por sua incontestável segurança técnica. A cereja do bolo?: é vegetariana. Quando a vi pela primeira vez (ela não era tão assídua freqüentadora das aulas), pensei que fosse alguém meio fora do ar. Com o tempo e a convivência, descobri que ela é, de fato, maravilhosamente fora do ar. Passamos longas horas conversando no terraço da faculdade e por vezes também no parque Cişmigiu. Lembro nitidamente dela escrevendo no meu caderno, enquanto fumava nervosamente e os dedos da outra mão oscilavam com o lápis. Seu olhar incisivo é outra carcterística marcante. Pressentia quando algo ia errado comigo e me lançava um olhar penetrante perguntando „Ce ai cu tine?” (o que você tem?). Nunca consegui esconder nada dela por conta disso. Discutíamos musica seriamente ao mesmo tempo em que fazíamos brincadeiras como executar os dois, simultaneamente e em dois pianos, L’Isle Joyeuse, de Debussy. Disse a ela certa vez: „Você toca essa peça completamente diferente de mim... Mas como eu admiro!”.
Não sei ainda direito que razões me levaram a intuir Oana como a intérprete da minha suíte Cartas Romenas, em maio. Até aquele mês, falávamo-nos relativamente pouco. Porém sempre retive algo muito bom dela de cada vez que nos encontrávamos. Dona de um sorriso amável e franco, embora tímido, era para ela que eu recorria no meio da aula quando não entendia alguma palavra. Fui assisti-la certa vez tocar o Trio Dumky, de Dvorák. Chamou-me para jantar na sequência. Foi quando convidei-a para tocar comigo minha suíte a 4 mãos. Ela tomou a partitura, manuscrita e ainda incompleta nas mãos, folheou com gravidade e depois, com um sorriso, aceitou o desafio. Tivemos pouco mais de uma semana para prepará-la. Fui a seu convite à sua cidade natal, Galaţi, para uma estadia de 2 dias, onde poderíamos ensaiar seriamente. Lá, fui acolhido por seus pais, pessoas de uma simplicidade, amabilidade e dedicação incomparáveis, que me promoveram uma das melhores acolhidas que tive em minha vida. Na reta final antes das provas, passávamos horas a fio em salas contiguas, estudando (in)cansavelmente, até que um ia até a porta do outro e chamava para um lanche no vizinho parque Cişmigiu. Naquele gramado, freqüentemente na companhia da Ioana, dividíamos as mesmas inquietações e quase sempre as mesmas opiniões e gostos. Por suas mãos, escutei uma das mais belas e convincentes interpretações da Sonata em La Menor de Mozart. De todos, é com quem sou musicalmente mais identificado.

Essas são algumas das impressões que me vieram à mente no momento de redigir esse pequeno tributo. Certamente, um livro inteiro de boas memórias poderia ser escrito sobre esses amigos queridos. Vou me sentir tentado a, toda vez que abrir meu blog, acrescentar alguma outra memória sobre eles. Também, nesse momento, devo ao menos citar os demais amigos, de fora do meio acadêmico, que me devotaram seu carinho e suporte ao longo desse ano. Vou nomear aqui meus caros Fernando Klabin (anfitrião, amigo das horas de narguilé, das elevadas conversas sobre música e literatura e das periódicas idas aos seus retiros de Draguşeni e de Fierbinţi), Elena (sua querida e devotada esposa), o embaixador Vitor Gobato (que me prestou impagável auxílio pessoal, material e psicológico), Socorro, Rubens, Garibaldi, Jorge e Andréia (todos da embaixada), Laura Marculescu (a mais brasileira de todos os romenos), Raluca e Sebastian (que me promoveram o mais exótico ano-novo da minha vida), Wolfgang, Alexandra, Alexandru e Bianca (pelas viagens, passeios e noites de palinca e ţuica!!!), Diana Şincai e Gabriela Vişan (da Rádio Romena), Irina Sârbu (minha partner no concerto de Braşov), Sorin Lerescu (meu portal de entrada na Romênia), Verona Maier e Andreea Cristea (estes ainda do meio musical).
Todos vocês –tenham certeza- são muitíssimo mais do que a memória que me constrói!

12 de ago. de 2009

Cronica muzicală : PIANISTUL RAUL PASSOS

Cronica muzicală : PIANISTUL RAUL PASSOS

Sâmbătă, 20 iunie 2009, în rotonda Ateneului Paul Constantinescu (Casa memorială omonimă din Ploieşti, strada Nicolae Bălcescu 15), după ora 11 a.m., statornicii melomani care de obicei asistă de ani de zile la toate evenimentele muzicale organizate şi prezidate cu excelenţă profesională, de maestrul Alexandru Bădulescu, au trăit reale momente de răsfăţ eutherpean, avându-l ca invitat – premieră locală! – pe Raul Passos, pianist brazilian cu uimitor palmares interpretativ şi de creaţie. Prezenţa domniei sale a fost motivată de o dublă contribuţie: prima – acompaniamentul asigurat recitalului vocal susţinut de distinsa soprană Camelia Pavlenco, a doua – interpretarea câtorva lucrări pianistice de notorietate în istoria muzicii universale.

De un an de zile aflat în ţara noastră, locuitor al Bucureştiului, Raul Passos are, la 23 de ani, o biografie remarcabilă. La 6 ani începea să arate că e născut pentru muzică. După studii de Componistică şi Dirijat s-a prezentat în primele concerte în sălile din Curitiba – localitatea natală, în Rio de Janeiro, în São Paulo, Minas Gerios, Golãs, Rio Grande do Sul şi Santa Catarina. Ultrapremiat internaţional, Raul Passos urmează acum masteratul la Universitatea Naţională de Muzică din Bucureşti.

Vorbeşte minunat limba română şi este foarte agreabil; simplitatea şi modestia sunt alte două calităţi ale tânărului cu alură don-juanescă. Dar virtutea sa o exprimă cel mai natural şi tulburător prin claviatura pianului, pe care o stăpâneşte magic. O explicaţie a acestui secret cred că am găsit-o în momentul în care, citind cartea d-sale de vizită, am descoperit că, citez: „Este cercetător al Universităţii Internaţionale Rozacruce şi studiază raportul dintre muzică şi misticism – domeniu despre care este des invitat să ţină conferinţe”.

Vocaţia pianistică a domnului Raul Passos poate fi schiţată, pe cât de sumar ar părea, astfel: fragilitatea melancoliei chopiniene rezonând prin virtuozităţi din Bach şi Wagner! Dominate de o trăire a întregii sale fiinţe – spiritualizate de marea muzică –, într-o impecabilă sincronizare cu nuanţele şi subconştientul fiecărei lucrări interpretate. Claviatura prinde, sub degetele lui, aproape ireale, o putere care materializează vraja şi o însufleţeşte miraculos. Revelaţia? „La picioarele tale” – compoziţie passosiană de superb rafinament, cu amprenta originalităţii. Partitura muzicală propriu zisă a confirmat valoarea pe care pianistul din Curitiba a insuflat-o, spre exemplu, Concertului nr. 21 pentru pian şi orchestră, în Do major, de Mozart, într-o „cadenţă compusă de el însuşi”, cităm altă precizare a siviului passosian. Infuzia de candoare şi tristeţe, de recul erotic, de veşnică imponderabilitate a dorinţei de iubire deplină, în aceeaşi interpretare Passos-Pavlenco, a emoţionat, cu preţul valurilor de aplauze, prin „Nu vorbi, te rog”, de Camargo Guarnieri, şi prin Trei haiku-uri puse pe note de Paurillo Barroso, cărora distinsa soprană le-a dat strălucire vocală şi teatrală, urmându-le „Amintire”, „Cântec de leagăn”, „Visul nepoţelei” şi „Vis îndrăzneţ”. Eclatantele ritmuri ale clasicului tangou au izvorât – din claviatura fermecată de Raul Passos –, odată cu acordurile suav cadenţate în „Indiscreţie”, de Siquier, în „Serenadă” şi „Coliba”, de Lorenzo Fernandez şi în „Sonet”, „Pauză” şi „Să cânţi”, de Norman Fraser. Simetriile sonore au structurat mesaje şi semnificaţii din inepuizabilul sentiment al eternului El & Ea, intercalând senzorialul filozofic al conceptului „Dacă dragoste nu e, nimic nu e”! Spusa niciodată deplină a acestei dorinţe, s-a insinuat fericit în simţirea celor de faţă, prin recitalul pianistic pe care domnul Raul Passos l-a susţinut la Ploieşti, repet; în compania strălucitei soprane Camelia Pavlenco, despre care vom scrie o cronică aparte.

Eveniment care precede comemorarea Centenarului naşterii lui Paul Constantinescu (la 30 iunie), acest unic recital rămâne un triumf al pianisticii braziliene, prin Raul Passos – pentru prima oară la Ploieşti –, unul din străluciţii ei reprezentanţi, interpret de o remarcabilă sensibilitate solistică. Simpaticul oaspete a excelat, alături de doamna Camelia Pavlenco, cu repertoriul ales din componistica marelui muzician român, pe care l-a susţinut într-un crescendo emoţional răsplătit cu aplauze frenetice. Tandemul Passos – Pavlenco a interpretat cu măiestria dusă la perfecţiune, scurte lucrări muzicale, pe versuri de poeţi români, precum Seara (Arghezi), Jos în care şi Doină (Şt. O. Iosif), Bate vântul vinerea şi De trei ori potcovii calul (Radu Gyr).

Serghie Bucur


(extraído do jornal romeno INFORMATIA PRAHOVEI, da cidade de Ploiesti)

4 de ago. de 2009

BELO HORIZONTE...


Não havia percebido até o momento em que me pus diante do monitor para escrever sobre Belo Horizonte que a tarefa de redigir uma crônica sobre a capital mineira me seria muito mais difícil do que narrar toda a epopéia romena ou descrever os "causos" pitorescos da já saudosa Bucareste... Minha ligação com BH é, como pude provar para mim mesmo mais uma vez, extremamente forte, passional... Telúrica, diria!

Em Belo Horizonte vivi momentos únicos na minha vida. Foi para cá minha primeira viagem de avião, aqui vivi meu primeiro amor a distância, aqui fiz alguns dos melhores amigos que tenho nesse mundo e experimentei momentos sublimes de elevação espiritual e de inspiração. Muito do que escrevi e compus até hoje frutificou de sementes lançadas aqui nas Alterosas. Isso tudo para não cair na obviedade de falar nos prazeres do paladar que essa terra proporciona (nunca consigo voltar para Curitiba sem um litro de manteiga de garrafa, um pote de doce de leite de Viçosa e um naquinho de queijo rapa-de-tacho...)

Pois puxei a tarefa (e assumi a obrigação) de escrever minha primeira crônica pós primeiro ano de Romênia sobre esse cantinho de Brasil que tanto me traduz (acabo de pensar no meu querido amigo e professor Harry Crowl, leitor devotado desse blog... Talvez fique um pouco decepcionado pela escolha do tema... Mas você me compreende, né, Harry?)

Depois de um mês de Brasil, pude experienciar aquela sensação a qual já temia antes de deixar o solo romeno: o da perda da raiz. Os ambientes que eu frequentava, as ruas pelas quais andava e mesmo o ar da cidade (de Curitiba falo agora) não me parecem mais os mesmos. Apesar do peso potente e inelutável talhado pela saudade de tudo, a vibração dos lugares me parece diferente e não percebo a sintonia que tinha com esses elementos anteriormente. Não preciso descrever o maravilhoso de reencontrar família, amigos, vizinhos... Isso são, para mim, recompensas dulcíssimas de um ano de esforço e maturação pessoal e profissional. Contudo, a geografia me parece insensível e pouco solidária. Em outras palavras, não consigo me sentir 100% em casa, ao mesmo tempo que sei que jamais estarei completamente em casa em Bucareste ou em qualquer outra parte do mundo. Aceitei o sentimento com um sorriso interior bastante discreto, animado pelo que me disse o mesmo Harry: "isso facilitará a adaptação por onde quer que vá".

Fui a Piçarras depois de alguns dias de Brasil e, curiosamente, apesar das evidentes mudanças na cidade, ainda encontrei, para consolo, o ar da cidade que me viu crescer. Lá, ainda pude sorver um pouco daquela nostalgia de infância e respirar aquele ar tão peculiar (que de longe, muito de longe, me roçou a memória quando estive em Galaţi com Oana, minha amiga do mestrado. Última cidade grande por onde passa o Danúbio, antes de formar o delta, em sua longa jornada pela Europa, Galaţi me trouxe aquela memória promordial e distante).

No entanto, um desejo imenso de rever Belo Horizonte e meus amigos queridos me impulsionou a viajar para cá na última semana. Depois de dois anos ausente, me trouxe um conforto imenso à alma reencontrar uma cidade que parece se moldar ao meu espírito. Tenho uma paixão muito bem resolvida com BH, e isso talvez me leve a julgamentos beirando a parcialidade em muitos aspectos. Evidentemente, não fossem meus amados amigos Wanderley, Jô, Zé Agnaldo, Luciane, Marina, Paula, apenas para ficar nos que pude encontrar dessa vez, provavelmente esse affair com a cidade fosse mais superficial. Mas Minas me presenteou com mais do que posso suportar se quiser retratar suas paisagens e sua gente com pouco ou nada de efusão.

Belo Horizonte é uma ilha no tempo e no espaço. Única cidade do mundo onde estive em que sinto fisicamente que o mundo espera do lado de fora. Sou sincero em dizer que apenas agora, depois de um mês de volta à pátria, senti tranquilidade no coração.

Se for lançar um olhar às coisas que mais me surpreenderam em BH, do ponto de vista prático, diria que me causou agradável surpresa notar a sensação de segurança que se tem pelas ruas, a fluência do tráfego e a eficácia do transporte (diga-se de passagem a boa idéia de pôr nos ônibus pequenos folhetos junto aos bancos com literatura), a cada vez melhor infra-estrutura turística e (curitibanos, pasmem!) a área verde. Embora com muito menos parques, ouso dizer que pelas ruas a arborização é melhor que a de Curitiba, sempiterna capital ecológica...

Mas não quero ficar fazendo propaganda turística. Já disse que não sou imparcial. Apenas desejaria registrar o pleno da minha satisfação em estar nessa terra tão querida. A convivência com os amigos e demais pessoas daqui só me fazem aumentar o desejo de, um dia, me estabelecer por aqui. Mesmo porque não seria mal sobreviver à base de couve, farofa e feijão, tesouro precioso que tanto me faltou na distante Romênia...

Este pequeno post, que muito menos pretensão literária tem do que os anteriores, quer apenas modestamente registrar e sacramentar essa ligação com BH. Praça da Liberdade, Savassi (e a soberba livraria da Travessa...), o mercado central e sua peculiar mescla de aromas, o concerto da Filarmônica no parque... todos são endereços, talvez óbvios clichês, mas onde minha alma, saudosa e inquieta sempre, repousa.

por Raul Passos, em Belo Horizonte / MG, 03 de Agosto de 2009