Apresento, para apreciação dos leitores deste blog, traduções de dois dos mais célebres poemas da literatura francesa: A Une Passante, de Charles Baudelaire (uma preferência pessoal minha) e Le Dormeur du Val, de Arthur Rimbaud, ambos exponentes do simbolismo.
(Charles Baudelaire)
A rua, um caos, a meu redor vociferando.
Esbelta, esguia, de luto, dor majestosa,
Uma mulher passou, com sua mão faustosa
Erguendo o debrum e a tiara balançando;
Tinha a perna de estátua, era ágil e fina.
Eu bebia, excêntrico e crispado agora,
No seu olhar, céu cinza onde a tormenta aflora,
A doçura que encanta e o prazer que fulmina.
Um clarão... e então, noite! – Furtiva beldade
Cujo olhar de repente me fez renascer,
Não te verei jamais senão na eternidade?
Tarde demais! Distante! Nunca, pode ser!
Não sabes aonde eu vou, e não sei aonde ias,
Tu que eu teria amado, e tão bem o sabias!(tradução de Raul Passos)
O ADORMECIDO DO VALE
(Arthur Rimbaud)
É um recanto verde onde canta uma ribeira
De prata; onde o sol, da montanha altaneira,
Luz; é um pequeno vale que espuma em clarões.
Jovem soldado, boca aberta, testa nua,
Banha a nuca no fresco dos agriões azuis:
No sereno ele dorme, sobre a grama crua,
Pálido, no leito verde onde chora a luz.
Os pés sobre os gladíolos, repousa. Sorrindo
Como fosse um menino doente, está dormindo:
Tem frio. A natureza o embala no seu peito.
Mas o cheiro dos perfumes não mais lhe alcança,
Dorme sob o sol, mão no coração, descansa
Em paz. Dois rombos rubros do lado direito.
(tradução de Raul Passos)